O custo da insegurança para o comércio

4 de set de 2017

Guilherme Almeida, economista da Fecomércio MG

Os cenários de crise econômica prolongada, marcada por desemprego agudo, historicamente tendem a aumentar os índices de criminalidade nos países afetados, envolvendo desde pequenos furtos até os casos mais graves, como assaltos a mão armada. No Brasil, a situação não é diferente. O crescimento da violência nos últimos anos, além dos impactos diretos que provoca à população, tem gerado prejuízos para diversos setores, entre eles o comércio, exigindo um olhar ainda mais atento para a situação. Ao longo dos últimos 12 meses, empresários foram obrigados a mudar de hábitos e destinar um valor expressivo do faturamento para tentar proteger o seu negócio.

Uma pesquisa elaborada pela Fecomércio MG, em junho, apresenta estatísticas sobre o assunto. O estudo mostra que o número de estabelecimentos furtados, assaltados ou marcados por cenas de agressão mais que triplicou de 2016 para 2017, em Belo Horizonte. Quase 40% das lojas passaram por algum episódio desse tipo, contra 15,3%, no ano passado. Entre os crimes ocorridos, 45,3% registraram assalto a comerciários, sendo 38,5% deles a mão armada. Já 42,2% dos empresários sofreram com furto à loja, e 7,8% enfrentaram assalto a clientes.

Com a insegurança crescente, mais da metade (53,2%) dos varejistas da capital mineira decidiu tomar atitudes preventivas, com reflexos no dia a dia loja. A principal ação, escolhida por 32,8% dos entrevistados, foi guardar objetos de valor em outros locais, enquanto 32,3% optaram pela alteração nos horários de funcionamento da loja, fechando o estabelecimento mais cedo e nos finais de semana, principalmente. Além disso, 23,9% reforçaram os mecanismos de proteção às lojas.

De modo geral, a maioria das empresas (64,8%) gasta até 5% do faturamento mensal com segurança. Um investimento expressivo, que poderia ser destinado a projetos de inovação, ao aprimoramento do mix de produtos oferecidos, à capacitação de funcionários e a diversas outras finalidades relacionadas à expansão do empreendimento. No entanto, os recursos vão para medidas que tentam minimizar o avanço da violência no ambiente de trabalho e seu entorno, missão que nem mesmo deveria estar a cargo dos empresários, mas, sim, do poder público.

Além disso, as ações realizadas são incapazes de atacar outro impacto, este indireto, da criminalidade no comércio: a queda nas vendas, em função da mudança de comportamento do consumidor. Em um contexto em que a percepção de insegurança é maior, o cliente passa a evitar determinadas regiões da cidade ou fazer compras em horários considerados mais perigosos, por exemplo. Nos últimos 12 meses, também conforme o levantamento da Fecomércio MG, esse problema já ocasionou impactos negativos para 32,7% dos empresários.

Portanto, não há outro caminho para a solução dessa questão que não seja os empresários, que já se adaptam como podem, seguirem cobrando – e com mais ênfase – a promoção de políticas públicas efetivas para proporcionar mais segurança à sociedade. E isso não envolve somente a polícia. Trata-se de um tema bem mais complexo, passando pela melhora da economia e geração de empregos de qualidade, até a criação de programas de auxílio à população em situação de vulnerabilidade social.

*Artigo publicado no jornal Estado de Minas

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