Os rumos do comércio com a alta da Selic

10 de maio de 2021

* Gabriela Felipe Martins
Economista da Fecomércio MG

Após o reajuste feito na taxa Selic em março de 2021, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar novamente a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual (p.p.), passando de 2,75% para 3,5% ao ano. Ferramenta de controle da inflação, a Selic normalmente sofre elevações quando se pretende segurar a pressão pela alta de preços, neste momento marcada pelo encarecimento de alimentos e combustíveis.

Em outras palavras, quando a inflação está acima da meta estipulada pelo Banco Central, eleva-se a Selic para que, desta forma, ocorra um aumento dos custos de crédito – financiamento, cartão de crédito, cheque especial, dentre outros – para o consumidor e as empresas. Como consequência, há uma redução do consumo e uma queda geral dos preços.

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) já havia acentuado a retração no nível de consumo das famílias. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas do comércio varejista do país registrou em fevereiro de 2021 uma retração acumulada no ano de 3,8%. O alto índice de desemprego, a elevação de preços e, recentemente, a alta da Selic contribuíram para essa queda, que afeta diretamente o comércio.

Além disso, a expansão da taxa básica de juros eleva os custos de financiamento não apenas para o consumidor final, mas também para as empresas. Com o reajuste da Selic, outras taxas bancárias sofrem aumentos, desencadeando um crescimento do custo do crédito. Com o consumo em baixa e o crédito mais caro, todos os setores da economia, e, em especial o comércio de bens, serviços e turismo, sofrem um impacto negativo sobre suas atividades, agravando a crise enfrentada nos últimos meses.

O controle inflacionário é imprescindível ao país, principalmente diante da alta de preços de bens essenciais. No entanto, esse processo deve englobar não apenas o aumento da taxa básica de juros, mas também a diminuição dos gastos do governo. Essas medidas contracionistas causam efeitos indesejados na economia, como o aumento do custo do crédito e as suas consequências para o comércio, mas reduzem o risco inflacionário. Por outro lado, os empresários, em meio à crise, veem-se frente a um impasse: como obter crédito ou microcrédito para manter a saúde financeira do negócio diante da necessidade de o governo aumentar os juros?

Conduzir a economia brasileira em uma das maiores crises da humanidade é uma tarefa complexa e delicada. É imprescindível conter a alta de preços e adotar medidas de prevenção da Covid-19, mas elas não podem deixar as empresas, força-motriz da economia, em segundo plano. É preciso criar e manter linhas de crédito atrativas para todos os empresários e gerar suporte para uma retomada econômica gradativa, mas consistente.

Para uma economia forte, é preciso que o governo mantenha os benefícios assistenciais, auxiliando as famílias e mantendo o consumo aquecido. Também é papel do poder público prestar apoio aos negócios, em especial às micros e pequenas empresas, evitando o maior número possível de falências. Só assim, os efeitos negativos das políticas contracionistas, acrescidos aos fechamentos consecutivos do comércio, não irão inviabilizar o futuro do setor, principal responsável pela geração de empregos diretos em todo o país.

* Publicado no Diário do Comércio

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